” De um lado a serra enorme. Tão negra que chega a rebrilhar o sol. No entanto, seu corpo é feito de quartzito mais branco que as Minas têm. À sombra dessa serra, cujas sombras o crepúsculo prolonga, ergue-se, sozinha, a Vila de S. José Del Rei.
Há uma calma profunda no ambiente. Parece ainda estarrecido com o martírio de seu filho mais querido, o Tiradentes. Aqui, inda menino, ele brincou, em corredeiras pelas campinas a fora. Pescou lambaris no riacho, colheu flores, armou arapucas, aprendendo a amar o chão e as coisas de sua terra.
Viu o ouro ingrato, das mãos feridas dos mineiros, fugindo para além-mar. Ouviu os lamentos doridos agrilhoados, e assim se fês homem e se transformou em herói. Meditou aqui e ali; colheu queixumes e esperanças. Na calma profunda do ambiente dormitavam anseios.
De novo os emboabas se dispõem à luta mas, agora, pelo direito a liberdade. A conspiração se instala. O herói se transforma em mártir. Hoje a cidade eterniza seu apelido, à sombra da mesma serra enorme, tão negra que chega a rebrilhar o sol.”
Texto de Renée Lefèvre